"... O Verdadeiro Educador é o que Acompanha as Mutações da Vida, dos Tempos, dos Comportamentos.
...Educar é perder as batalhas do imediato. Menos a do Amor.
É abrir mão da pretensão do reconhecimento e saber que quando vier - se vier - já tempo não haverá para receber o agasalho de sua manifestação. É aceitar perdurar apenas na lembrança.
É perder porque, em qualquer sistema, o verdadeiro educador estará ameaçando algo, até mesmo tudo em que acredita.
É quem logo vê o abismo de imperfeições implícito no próprio ato de educar.
Sabe que educar é educar-se a cada dia.
Educo hoje, com valores adquiridos ontem, pessoas que são o amanhã.
... Os valores de ontem, conheço-os.
Os de hoje, percebo alguns. Dos de amanhã, não sei.
Se só uso os valores de ontem, não educo: condiciono.
Se só uso os valores de hoje, não educo: complico.
Se só uso os de amanhã, não educo: faço experiências à custa das crianças.
Se uso os tres, sofro. Mas educo. Imperfeito mas correto.
Por isso educar é perder sem perder-se! Sempre! É ameaçar o estabelecido.
Mas é, também, integrar.
Viver as perplexidades das mutações;
conviver honradamente com angústias e incertezas;
ir dormir cravado de dúvidas, mas ter sensibilidade para distinguir o que muda do que é apenas efêmero;
o que é permanente do que é reacionário.
É dormir assim e acordar renovado pelo trabalho interior,
e poder devolver segurança, fé, confiança, formas éticas de comportamento, o verdadeiro sentido de independência e liberdade,
e os deveres sociais consigo mesmo, e com o próximo,
aprender a fazer a parte que lhe cabe no esforço comum.
Educa quem educará e for capaz de fundir ontens, hojes e amanhãs, transformando-os num presente onde amor, senso de justiça e livre-arbítrio sejam as bases.
... E só se educa quem é capaz de transformar seu ódio em amor.
... Educa a velha professora de quem nos lembramos, sabe Deus por que, décadas depois,
quando sua lembrança não tinha razões aparentes para vir à tona,
como o velho tio, o amigo, o pai e a mãe
que voltam do passado com aquele olhar,
aquela observação sobre a vida, na época julgados absurdos.
Educa todo aquele que só entendemos muitos anos depois.
... Educa o que nos exigiu forças de que nos julgávamos desprovidos;
esforços de que nos acreditávamos incapazes;
confrontos conosco mesmos,
de que tanto fugimos com tantas desculpas menores.
Educa quem integra, sempre e sempre, pedaços de uma realidade eternamente mais ampla do que nós.
E só quem educa, em qualquer nível ou atividade,
merece viver integralmente as paradoxais intensidades de que é feita a vida. Este, sabe apreciá-los! "
( Arthur da Távola )
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